domingo, 28 de fevereiro de 2010

O lendário e o presente


Após um breve interregno (cerca de dois meses) depois da última publicação neste blogue, cá estou eu novamente para o “bota abaixo”!

E começo por dizer que eu ainda sou do tempo em que havia matos e campos, muitos árvores, muita verdura, muitas flores campestres, animais à solta pastando por aqui e por ali, pessoas que se cumprimentavam pela manhã, à tarde ou à noite e se conheciam pelos nomes próprios e pelas famílias, carros que paravam para dar boleia sem perigo de assaltos, raptos ou outras violências, filhos que respeitavam os pais e cuidavam deles quando chegavam a velhinhos, médicos que conheciam os seus utentes e o sítio onde moravam, jovens que se levantavam do lugar onde estavam sentados para o cederem a mulheres grávidas, pessoas doentes ou de mais idade, padres que conheciam toda a história familiar dos seus paroqueanos, crianças que brincavam na rua sem correrem perigo de serem atropeladas, fábricas que abriam as suas portas para empregar gente, rios que corriam nos seus leitos sem serem entubados ou desviados das suas rotas naturais para se criarem novas zonas urbanísticas, pessoas que confiavam umas nas outras, tempo em que o sol tinha mais cor e brilhava para toda a gente, enfim um sem número de coisas que parecem pertencer à imaginação fértil de alguém que está a escrever sobre uma terra lendária. Bem, na realidade, fazem parte das vivências do meu passado.

E o que vemos agora? Zonas verdes que desaparecem cada vez mais para darem lugar à construção desenfreada, pessoas que moram lado a lado sem se conhecerem, carros que são roubados para se efectuarem assaltos, pessoas que morrem em consequência de maus-tratos ou de violências praticadas por tais actos, centros de dia e lares de idosos cada vez mais repletos de pessoas rejeitadas pelos seus familiares, gente que vai de madrugada para guardar vez no Centro de Saúde por precisar de consulta no médico de família e nem sequer o tem, sendo atendido ou não nesse dia em função das vagas existentes e da disponibilidade dos outros médicos da Unidade de Saúde. Assistimos ao crescente egoísmo das pessoas que olham demasiado para o seu umbigo e não vêem o que se passa à sua volta, mesmo que haja alguém a precisar de ajuda, vemos párocos mais preocupados com o o seu bem-estar e com o que podem ganhar em função dos serviços religiosos prestados e menos atentos à prática do bem e ao desprendimento de bens terrenos. Verificamos também que as nossas crianças têm de ser cada vez mais protegidas dos perigos que as rodeiam como raptos, drogas, abusos sexuais e outras violências praticadas por pessoas sem escrúpulos. Cada vez há mais fábricas a fecharem as suas portas e semeia-se desemprego por todo o lado. Tapam-se leitos de rios e constroem-se canais que limitam o caudal e em época de cheias constituem entrave à passagem e escoamento das águas, provocando desvios e estragos em zonas que estariam normalmente protegidas, se não tivessem sido efectuadas alterações à mãe-natureza. No nosso dia-a-dia é uma constante a descoberta de situações de burla, gente que domina outra gente à custa do seu poder: faz-se, desmente-se e continua-se a fazer, sem que nada aconteça. Um dia falha aquele que respeita tudo e todos e anda sempre certinho, cumprindo o seu dever e pagando as contribuições a tempo e horas, prevarica uma única vez e cai-lhe o mundo em cima, é castigado e tem de servir de exemplo para os restantes.

Enfim, o sol é diferente!

E não brilha p´ra toda a gente!

Mas se o presente é assim...

No futuro, que será de mim?