sexta-feira, 27 de março de 2009

Crise

Ao iniciar este blogue, decidi abordar um tema actual e bastante badalado até ao momento que atormenta a vida de todas as pessoas: a CRISE.

Se descodificarmos a palavra CRISE, letra a letra, poderemos facilmente chegar à seguinte leitura: está instalado o Caos, os Resultados são Invertidos!... Salvem-nos desta Embrulhada!

D. Crise chegou, entrou sob os olhares mais atentos e descrentes, não se fez rogada e veio para ficar. Não estávamos à sua espera, nem tínhamos nada preparado para a receber.

É de trato fino, mas com muito mau feitio. Melindra-se por tudo e por nada! É necessário muito tacto, sensibilidade e inteligência para conseguir lidar com ela.

São os governantes a falar dela com muito cuidado, os empresários que se aproveitam da sua presença para justificarem os seus actos, os gestores e economistas que vão tentando cortejá-la na ilusão de conseguirem obter alguns resultados positivos e os analistas e investigadores que se dedicam a analisar, a examinar e a prescrever receitas com indicadores de sucesso. Todos se mostram inexcedíveis com ela: querem conhecê-la melhor, seduzi-la e tentar desviá-la, mas não está a ser nada fácil! Há avanços e recuos!...Mas conseguir demovê-la, é ainda uma miragem!

D. Crise para aqui, D. Crise para acolá e tudo fica na mesma, algumas vezes ainda pior, porque um pouco por todo o lado vão-se abrindo filiais: é a crise do trabalho que conduz ao desemprego; é a crise de valores que nos leva ao materialismo; é a crise de afectos que desmembra famílias e destrói lares; é a crise na religião onde surgem cada vez mais movimentos e seitas, alguns dos quais com comportamentos e atitudes menos dignas e que nos deixam mais confusos e descrentes; é a crise no negócio onde escasseia a matéria-prima e o número de compradores, consequência das dificuldades económicas que hoje se fazem sentir; é a crise ambiental do planeta Terra, vivida com angústia por alguns e completo desprezo por outros; é a crise existencial que nos faz questionar a existência do próprio homem.
Em nome da Crise tudo se faz, tudo é viável, tudo tem razão de ser, tudo fica justificado.
Em nome da crise queixa-se o comerciante e diz que não vende, mas não baixa os preços da mercadoria para que a possa vender melhor e esta fique mais acessível ao público comprador. Pelo contrário, continuamos a assistir à subida de preços de alguns produtos básicos e absolutamente essenciais na alimentação das pessoas. Criar um tecto nos arrendamentos de lojas poderia ser um passo positivo no sector do comércio, assim como limitar a margem de lucro nas peças vendidas, poderia ajudar a baixar os preços e que assim se poderiam tornar bastante mais apelativos ao consumo. Ora quando as pessoas compram estão a gerar riqueza.

Em nome da crise alguns empresários procedem a despedimentos, em vez de fazerem a contenção de despesas supérfluas ou se esforçarem um pouco por encontrar outras soluções.

Fala-se em ultrapassar a crise mas os bancos não facilitam créditos para a construção ou compra de casas, obras, mobiliário, carro, negócios ou investimentos. Ora tudo isto ia gerar consumo e postos de trabalho, logo ia gerar riqueza no país.

Como se pode constatar, estamos perante o efeito “bola de neve”, é preciso consumismo para que a economia volte a estar em alta.
Verifica-se também que as pessoas já se habituaram a certos facilitismos de que não abrem mão. Não estão mentalizadas para poupar e não se preocupam com o dia de amanhã.
Preocupam-se com o bem estar imediato, a comodidade, a aparência e a diversão. Assim deparamo-nos com as casas de repasto e lojas de “fast food” ou de comida rápida a funcionar, abarrotadas de gente em qualquer refeição e aos fins de semana não dão mãos a medir.
Investe-se em vestuário e em calçado, no cabeleireiro, na esteticista, em festas temáticas, fins de semana fora, férias e em gasolina que se gasta sem pensar, percorrendo dezenas de quilómetros aos Sábados e aos Domingos, muitas vezes ficando em filas de trânsito intermináveis, só para um passeiozinho à beira-mar, estar meia hora na praia ou num bar, comer um gelado, uma tripa, um hambúrguer, um cachorro ou uma pizza. Mas será que estamos mesmo em crise ou são apenas alguns que a sentem?


E afinal quem paga a Crise?
É o Zé pagador de impostos que vive na sua casita, de forma remediada, ou seja, não é suficientemente “desgraçado” para ter acesso a subsídios como o rendimento mínimo, subsídio para livros, refeições e transportes dos filhos que frequentam a escola ou subsídio para a renda de casa porque fez um empréstimo ao banco e a casa é “sua”, não é arrendada. Por outro lado não é suficientemente abastado para se socorrer do “pé de meia”, que possui por aí em algures no estrangeiro, onde o estado não consegue pôr mão para arrecadar alguns trocos de impostos. É verdade, os ricos são sempre ricos, os pobres vão vivendo das esmolas que o governo lhes vai dando e os “remediados” pagam as favas todas, porque não têm outra saída. Estão encurralados, não se vislumbram saídas e são uma espécie em vias de extinção. O pouco que conseguiram amealhar ao longo dos anos, à custa de muitas privações, vai desaparecendo no pagamento das obrigações fiscais. A classe do Zé está mesmo cada vez mais pobre e, qualquer dia, funde-se com a classe dos mais necessitados, ficando as duas numa só. Quando isso acontecer, quem vai pagar as contribuições? Se os pobres não podem e os ricos fogem, como iremos sair desta? É preciso que os governos pensem nisto seriamente para que os pobres não fiquem mais pobres e os ricos mais ricos.

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