sexta-feira, 5 de junho de 2009

A afectividade


Afectividade

Diariamente, deparámo-nos com situações de completa ignorância sobre a importância dos afectos na formação e equilíbrio do ser humano. Por isso, desta vez decidi abordar um tema bastante complexo como a afectividade. Sendo assim, e começando pela existência humana, verifica-se que uma pessoa só existe, quando existe vida. Ora, para que haja vida, é necessária uma interligação perfeita e equilibrada entre os vários tipos de forças do indivíduo: físicas, psicológicas, sociais, culturais, morais e religiosas. Assim, o homem funciona como uma unidade global e complexa, um todo que depende inteiramente das partes.

Ser pessoa implica também um mundo alargado de relações interpessoais que, por sua vez, desencadeiam reacções provocatórias de sensações de agrado ou desagrado, conforme o indivíduo, o estímulo recebido e/ou os factores circunstanciais.

Os estados de consciência provocados por sensações de bem-estar, mal-estar, alegria, tristeza, medo, receio, admiração, desprezo, ódio, paixão, prazer, dor e outras, não são factos psíquicos autónomos, mas têm características próprias e específicas que os distinguem de quaisquer outros e apresentam sempre uma tonalidade comum de agradável ou desagradável. Esses estados de consciência são chamados estados afectivos ou afectos, e são acompanhados de reacções específicas e opostas: o de aceitação e procura do estímulo e o de aversão e recusa.

Podemos então dizer que o afecto se caracteriza pela posição que o nosso Eu toma, face às excitações psico-sensoriais provocadas por percepções actuais ou imagens memorizadas, recordadas momentaneamente, e ainda por estímulos relacionados com vivências passadas, cuja recordação se mantém no subconsciente ou no inconsciente.

Como a afectividade engloba emoções, sentimentos e comportamentos diferentes de indivíduo para indivíduo, poder-se-á dizer que ela é o motor da vida, pois dá-lhe qualidade e reveste-a de sentido, estando presente a nível cognitivo, físico e psicológico.

A afectividade determina o estado de ânimo ou humor que, por sua vez, será o fiel da balança entre as emoções e os sentimentos ou, por outras palavras, o denominador comum dos afectos em cada momento.

As tonalidades afectivas de cada indivíduo dependem não só de factores pessoais, mas também de factores sociais e sobretudo familiares. Todo o ser humano precisa de amar e ser amado. A conjugação destes dois estados contribui imenso para o seu equilíbrio e bem-estar.

A carência de afectos na primeira infância provoca apatia e indiferença, que pode determinar um atraso intelectual, ou mesmo físico. Assim, o desenvolvimento do ser humano só poderá processar-se normalmente, se o mesmo acontecer num meio familiar sereno, estável e atento.

É no seio da família que a criança regula e regista as primeiras emoções, as primeiras comunicações e as primeiras relações com o mundo. É também aqui que a criança faz a sua integração no mundo dos adultos e aprende a comportar-se com eles. É com os outros que o indivíduo faz a sua socialização. Aprendendo a agir e a decidir, aprenderá a ser adulto.

Para que tudo funcione bem, é necessário que a criança sinta amor, paz e serenidade à sua volta.

Posto isto, seria bom que todos reflectíssemos um pouco sobre o que atrás foi dito, para que no futuro se possam evitar procedimentos desprovidos de quaisquer sentimentos e demasiado baseados em leis, que funcionam como um “uniforme”, mas que nem sempre corresponde ao tamanho e feitio desejado. Tal como na doença, a “receita” deve ser personalizada porque cada caso é um caso único. Também seria bom que os erros cometidos no passado pudessem servir para aperfeiçoar e ajustar as leis, no sentido de proteger melhor as nossas crianças.

Nenhum comentário:

Postar um comentário