quinta-feira, 18 de junho de 2009

A família


Observando os jornais diários, verifica-se constantemente uma onda de violência que se traduz em roubos e assaltos à mão armada, mortes e maus-tratos a familiares, sequestros, atentados à bomba e outras formas de destruição humana. Como é possível chegar a tudo isto? Talvez a resposta possa estar no meio familiar das pessoas que tudo provocaram. Para que possamos reflectir um pouco sobre o que significa para nós e quem sabe, mudar algumas das nossas atitudes, desta vez vamos falar sobre a família, até porque ela se encaixa perfeitamente na afectividade, o tema abordado anteriormente.

O conceito de família tem vindo a ser alterado ao longo dos séculos. Nos primórdios da existência humana, a ligação de um homem a uma mulher destinava-se unicamente a fins de procriação. Com o decorrer do tempo e, quase instintivamente, foram-se criando laços e agudizando sentimentos. Assistimos a uma evolução gradual e positiva das formas de agir e pensar. Fizeram-se estudos sobre comportamentos e passou a valorizar-se mais o ser humano e o grupo parental onde está inserido. Fizeram-se leis para proteger a família, as crianças e o homem. Quando finalmente achávamos que se reuniam todas as condições para que tudo funcionasse às mil maravilhas, deparamo-nos com múltiplas crises de valores e sentimentos no interior das próprias famílias.

O número de divórcios e separações tem vindo a aumentar e isso reflecte-se a nível de estabilidade emocional em todos os membros da família, especialmente nos filhos e na sua educação.

Se por um lado existem famílias cada vez mais reduzidas, quanto ao número de indivíduos que a compõem, por via da baixa natalidade que se faz sentir um pouco por todo o lado, por outro verifica-se também que as pessoas mais velhas são incitadas a sair do seu meio familiar, para ficarem entregues a centros de dia, lares de idosos ou outras instituições similares.

A pouco e pouco descaracteriza-se a família e esvai-se a sua identidade.

As sucessivas separações e divórcios entre os casais conduzem-nos a um novo tipo de família: aquela onde coabitam marido, mulher, filhos dele, filhos dela e, por vezes, filhos de ambos.

Poucos são os elementos que se entrosam no seu papel familiar: são cada vez mais egocêntricos, ficando sempre à espera de ver as suas necessidades satisfeitas. Querem mais e mais e pouco dão em troca. As crianças são cada vez mais reivindicativas relativamente ao consumo, pois confrontam-se e comparam-se diariamente com colegas de escola que possuem tudo e mais alguma coisa.

A relevância dos interesses pessoais nos membros familiares e a vontade, cada vez menor, de diálogo e partilha entre eles, torna a família mais frágil e susceptível de rotura.

Muitas vezes, a família funciona sem líder e em situação de crise, e os problemas nunca são ultrapassados. Os limites das gerações não são respeitados e as decisões, por vezes, são de natureza inapropriada. As respostas dos pais apresentam-se desorganizadas e carentes de orientação, aconselhamento e comunicação democrática.

Surgem conflitos entre os vários elementos e fazem-se alianças patológicas entre mãe e filhos, ou pai e filhos.

Existem famílias obsessivas onde as crianças não aprendem a discriminar as suas necessidades, nem a saber lidar com o insucesso.

Há ainda a família com mãe dominante e pai inadequado que é muito frequente e, por vezes, pode estar na génese da homossexualidade, da toxicodependência, ou mesmo de fobias e psicoses.

Por último temos a família simbiótica que funciona em bloco, com um ego indiferenciado, onde a criança, quando chega à adolescência, não possui recursos internos para se separar dela.

Posto isto, o que podemos entender como Família Ideal?

Será talvez aquela que funciona como um sistema aberto, que recebe e gera múltiplas trocas e interacções com o meio que a rodeia, como sejam outras famílias, indivíduos isolados ou sociedade em geral e cria mecanismos adaptativos para permitir a sua sobrevivência.

A família tem de ser um porto de abrigo, um refúgio agradável e seguro, um lugar de cultivo do afecto e dos mais altos valores humanos, um local aprazível que desejamos proteger e defender com “unhas e dentes”. E se a família funciona bem ou mal, depende também um pouco de nós, do nosso poder de persuasão, e da nossa doação e tolerância para com os outros.

É necessário que sejamos os primeiros a mudar, deve começar por nós, pela nossa própria família, pois ela pode funcionar como exemplo a seguir pelas outras pessoas.

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